Será que o fato de não haver roupão para a paciente leva a uma menor adesão do exame de Papanicolau?
Fazer o exame preventivo de colo do útero, mais conhecido como Papanicolau, é uma experiência desconfortante na qual toda mulher tem que passar. Embora essencial, o procedimento é constrangedor devido a motivos óbvios: a paciente fica exposta e vulnerável, em frente a uma pessoa que ela não conhece.
Na Suíça, entretanto, o momento torna-se ainda mais tenso devido à falta de costume dos médicos em oferecerem um roupão para que a mulher se vista até chegar à cama de exames. Além disso, não é comum a presença de uma enfermeira na sala quando o médico é do sexo masculino.
A consulta começa como no Brasil: a pessoa passa pelas perguntas de praxe e, após a anamnese, o clínico diz que a paciente pode tirar a parte de baixo de roupa para dar início ao exame. Então, é encaminhada ao local do procedimento. Geralmente bem próximo a esse lugar, há um cabideiro e um banco, onde a vestimenta deve ser tirada e pendurada. Pode acontecer de o médico ficar ou sair do ambiente. Se ele ficar, mais embaraçoso ainda. Mesmo que ele saia, a mulher precisa caminhar até o local nua, o que é considerado como o pico máximo do constrangimento.
Os exames são feitos geralmente na cadeira ginecológica e não em camas usadas para esse objetivo. As cadeiras, no entanto, causam vergonha adicional, já que a paciente visualiza mais a situação. No Brasil, onde há mais camas (ou pelo menos havia, quando eu morava no país), eu me sentia mais protegida. Nessa última frase exponho um pouco a minha experiência, mas diversas brasileiras com quem conversei disseram terem passado pelo mesmo mal-estar. Algumas dizem esperar a viagem ao Brasil para poderem ir em seus médicos de confiança.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que uma em cada cinco mulheres (20,6%) de 25 a 64 anos não realizam o exame preventivo de câncer de colo de útero no Brasil. O motivo não foi especificado pelo órgão. Estudo sobre razões pelas quais mulheres se recusem fazer o Papanicolau, realizado pela Escola de Enfermagem Anna Nery, mostra que a vergonha também foi expressa como fator de dificuldade para realização do exame. A pesquisa informa que elas se sentem inferiorizadas, demonstrando medo e vergonha de se expor, principalmente para um médico.
Levando-se em consideração que acanhamento com a nudez e até mesmo a forma como o atendimento médico é julgado passam pela cultura de origem, me pergunto como os médicos suíços ainda não tenham se sensibilizado com essas questões culturais. Principalmente quando podem influenciar na decisão de ir ao ginecologista. Se as brasileiras, em geral mais liberais, têm vergonha da nudez, como se comportam as mulheres de outras culturas? Caso a ser pesquisado, já que o país tem 25% de sua população estrangeira.
Assim como os brasileiros que decidiram morar no exterior, eu também tinha um sonho: queria levar a mensagem da interculturalidade para o Brasil. Pois hoje, com muito orgulho, anuncio a minha integração ao time de colunistas do Jornal de Brasília e da rádio CBN. Assim como já faço como aconselhadora intercultural e como colunista para […]
Ontem foi dia de cozinhar e almoçar com os refugiados que vivem na Suíça. A atividade integra o projeto Cook & Eat Together, do Grupo Sem Fins Lucrativos Jazz. Eles organizam regularmente atividades voltadas para integrar os asilados à nova comunidade em que vivem. O convite é extensivo a todos, suíços e estrangeiros de todas […]