Compartilhar o chocolate é culturalmente bem brasileiro

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11 de março de 2018

Assistindo à TV brasileira semana passada, me deparei com uma propaganda interessante: não no sentido criatividade publicitária, mas no de significado intercultural. Foi interessante observar o fato de que a marca de chocolate Lacta tenha lançado a barra ao leite Lacta na versão 135 gramas. Segundo a Mondelez Brasil, a produtora, o tamanho é o ideal para compartilhar.
Compartilhar, dividir o que se come… Fiquei imaginando as pessoas no Brasil, no escritório, abrindo uma barra de chocolate e fazendo a festa. Tudo começa com um alguém dizendo que sofre momentaneamente de um desejo incontrolável por um chocolate, o barulhinho do pacote sendo aberto, e o pronto oferecimento de um pedacinho para os vizinhos de mesa. Cacau que se transforma em êxtase da galera.
Para quem mora fora do país, especialmente na Suíça, essa é a típica cena difícil de acontecer. As pessoas aqui não esperam que você ofereça um biscoito quando você abre o seu pacote, mesmo que tenha 20 unidades. Pode até acontecer de oferecerem, mas não é regra.
A etiqueta perdoa quem come um sanduíche ao lado do amigo e não oferta um pedaço ou quem abre uma barra de chocolate após o almoço e dá aquela mordida sem nem mesmo olhar ao redor. A básica pergunta: “quer um pedacinho?” não pertence, na maioria das vezes, às sociedades de categoria individualista. Não é uma regra, tem gente que compartilha, mas com menor frequência do que estava acostumada.
Demorei a me acostumar, ainda me sinto um tanto estranha quando repito o gesto, prefiro realmente oferecer, mesmo que esteja fora do padrão. Uma vez ouvi de um chefe que eu não tinha que dar minha comida, no caso o biscoito, porque eu tinha comprado e era meu direito saboreá-la. Mais que sociedade individualista ou coletivistas (categorias culturais que explicam alguns comportamentos), acho que tem a ver também com o respeito ao espaço privado. Minha comida, meu investimento, minha privacidade.
Confesso que fiquei com saudades desses momentos fugazes, escapadas do dia a dia, que acontecem nos escritórios pelo Brasil afora… Mesmo que não seja com chocolate suíço.

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