A síndrome do jardim ao lado

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Thursday March 1st, 2018

Faço um paralelo entre morar fora do país e cobiçar a grama verde do vizinho. Assim como experimentar a vida além das fronteiras, o espaço fora da cerca do seu quintal sempre parece mais verde, mais ensolarado, fresco, florido ou alegre. E assim se mostram locais que não sejam os seus, ou pior, onde você não pode viver ou acessar.
A grama ao lado dá a impressão de melhor aparada, assim como a cidade em que seu amigo posta fotos e você não está, como o apartamento do outro, ou como qualquer coisa que não seja sua, que você não tenha. O que se possui é degastado pelo olhar de todos os dias. É o velho efeito arroz com feijão, que aliás, consegue se transformar em iguaria quando longe do território brasileiro.
O olhar diário diminui o brilho. O ser humano, o eterno insatisfeito, aprecia diversificação, a novidade. Desvaloriza o comum. O problema começa quando não sabemos lidar com o fato de que existem diferentes jardins, cada qual com suas características, pontos fortes e não tão vantajosos. Não se engane, a grama ao lado é vista por outro ângulo. A linha de raciocínio parece demasiadamente simples, mas assim somos muitos de nós quando vivemos longe.
Entramos em um círculo vicioso de só valorizar o que não dispomos, de enxergar beleza no local não alcançado, na realidade do outro. Facebook existe para confirmar. O corpo se faz presente, mas a cabeça, essa sonha com milhares de quilômetros a distância.
Quem mora fora do país ainda enfrenta processo mais complexo. Além de ter conhecido a grama do vizinho, explorou com profundidade. Transformou-a em lugar comum, voltou a amar o gramado familiar, e transferiu a atual para as proximidades do inferno. Indefeso e carente, aquele que antes só queria conhecer novas gramas, não tem mais estrutura para encarar as novidades e só pensa em quão verde era a sua. Uma confusão de emoções. Talvez não estivesse preparado para tantos tons de cores, nuances inexistentes em seu antigo jardim.
Mas agora que descobriu que existem flores das mais variadas espécies, como apreciar a Mata Atlântica sem deixar de se encantar com as tulipas? Simplesmente aceite cada uma em seu lugar, deixe que harmonizem com o habitat natural. Melhore seu jardim, invista em seu bem estar. Aproveite cada momento vivido onde quer que esteja e abra os olhos para muitos diferentes jardins, cada um com seu brilho e beleza, típicos daquele ambiente e inexistentes em outro. Emigrar deveria ser um treinamento para apreciar o cotidiano e comparar o que realmente pode ser contrastado.

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